sábado, 20 de fevereiro de 2010

... Fragmentos de Um Discurso Amoroso... (Roland Barthes).


Encontro pela vida milhões de corpos; desses milhões posso desejar centenas; mas dessas centenas, amo apenas um. O outro pelo qual estou apaixonada me designa a especialidade do meu desejo. Esta escolha tão rigorosa, estabelece, por assim dizer, a diferença entre a transferencia analítica e a amorosa; a primeira é universal e a segunda específica. É difícil encontrar a imagem que entre mil, convém ao meu desejo. Eis o grande enigma do qual nunca terá solução: Porque desejo esse? Porque o desejo por tanto tempo, languidamente? É ele inteiro que desejo (uma silhueta, uma forma, uma aparência, uma alma?) ou apenas uma parte desse todo? E, nesse caso, o que, nesse corpo e nessa alma amada, tem a tendência de fetiche em mim? Que porção, talvez incrivelmente pequena, que acidente? O corte de uma unha, a sua mão, a sua barba por fazer, uma mecha do cabelo? De todos esses relevos do corpo tenho vontade de dizer que são adoráveis. Adorável quer dizer: este é o meu desejo, tanto que é único. É isso! Exatamente isso (que amo). No entanto, quanto mais experimento a especialidade do meu desejo, menos posso nomeá-lo. A palavra adorável (a boa tradução de adorável), seria ipse latino: É ele, ele mesmo em pessoa.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010


Do Desejo
de Hilda Hilst



E por que haverias de querer minha alma

Na tua cama?

Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas

Obscenas, porque era assim que gostávamos.

Mas não menti gozo prazer lascívia

Nem omiti que a alma está além, buscando

Aquele Outro. E te repito: por que haverias

De querer minha alma na tua cama?

Jubila-te da memória de coitos e de acertos.

Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

(Do Desejo - 1992)



* * *



Colada à tua boca a minha desordem.

O meu vasto querer.

O incompossível se fazendo ordem.

Colada à tua boca, mas descomedida

Árdua

Construtor de ilusões examino-te sôfrega

Como se fosses morrer colado à minha boca.

Como se fosse nascer

E tu fosses o dia magnânimo

Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.

( Do Desejo - 1992)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010


... Trocar a precariedade da existência humana e da vida... A fugacidade dos bens materiais? A fugacidade do tempo? ... A falta de sentido da vida, a solidão que estou condenada, a vida como sonho e pesadelo (TODOS OS DIAS)... A distância... A perda... A falta...

O que é um ser dissimulado? É agir de modo a não ser precebido pelos predadores.